domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sócrates adia regionalização para as calendas

Os jornais de hoje reproduzem uma notícia que, embora não inesperada, de todo, acaba por revelar-se triste e deplorável.
José Sócrates, na qualidade de secretário-geral do PS, ao apresentar, este sábado, a sua moção de estratégia ao próximo congresso do seu partido, voltou a adiar a regionalização do país, que mais não é que um imperativo constitucional. Foi uma das bandeiras socialistas das últimas eleições, mas, uma vez mais, o centralismo lisboeta protela para as calendas a urgente e inadiável regionalização, que permitiria assegurar um desenvolvimento mais equilibrado do país.
O argumento para o adiamento do debate sobre o tema, é lamentável. Diz Sócrates: “O facto é que, neste momento, as circunstâncias económicas e políticas – em boa parte dada a recusa do PSD em avançar efectivamente para a regionalização – não favorecem, de todo, este movimento. Ignorá-lo seria um sinal de falta de lucidez, que poderia conduzir à definitiva derrota da ideia da regionalização”.
O que significa várias ideias. A primeira, é que enquanto a crise económica se mantiver em Portugal, não haverá referendo à regionalização, a não ser que Sócrates seja apeado do poder, o que, vistas as coisas, não demorará assim tanto tempo.
A segunda, e decorrente daquela, é que o PSD, o previsível inquilino seguinte de S. Bento, também não estará disposto a regionalizar o país.
A terceira ideia, é imensamente simples, mas dolorosa: tanto o PS, como o PSD, estão, mais uma vez, embora por razões diferentes, mancomunados para manterem um centralismo administrativo retrógrado e que já não se usa em lado algum. Tão modernizadores, tão “simplexes”, tão tecnológicos que se apregoam, e ambos são afinal mais conservadores que o regulamento permite. “Posteriormente”, quando houver uma “oportunidade adequada” volta-se ao assunto…
No limite, e lastimo ter de fazer esta afirmação, o argumento de Sócrates para não implementar a regionalização, a de que os portugueses não estão preparados para decidir a regionalização, faz-me lembrar a afirmação dos dirigentes do antigo regime: os portugueses não estavam preparados para a democracia. Será que é necessário um novo “movimento dos capitães” para combater as assimetrias regionais neste país?
Entretanto, e para justificar e manter esta lógica centralista, mais de 170 milhões de euros de fundos comunitários destinados ao desenvolvimento da província foram nos últimos anos canalizados para o Terreiro do Paço, que manda nesta espelunca toda, enquanto para a Europa eles são contabilizados como se aplicados em Trás-os-Montes, nas Beiras ou no Alentejo.
Chama-se a esta artimanha uma inqualificável fraude, uma burla política, uma espoliação dos povos que vivem nas regiões de onde Lisboa desviou os fundos que a elas eram destinados. Como nortenhos, temos de julgar os políticos que assim nos roubam.
Pelo que se lê nos jornais, a moção de Sócrates acaba de resultar num deserto de ideias, sem esperança, sem motivação, sem confiança.
Não mexe nos governos civis; não mexe nos deputados; não mexe na divisão administrativa do território. Não mexe nos lucros crapulosos dos bancos e das empresas monopolistas. Não mexe nos vencimentos indecorosos e imorais dos gestores públicos. Só consegue tirar dinheiro aos funcionários públicos e aos beneficiários da Segurança Social.
E, para cúmulo, ainda diz candidatar-se a secretário-geral do PS com um primeiro objectivo, o de que o congresso sirva para “reforçar a identidade do partido enquanto esquerda democrática, moderna e europeia”.
Como militante socialista, gostaria de deixar exarado que não me revejo minimamente no alegado esquerdismo da sua prática, que não tem passado de uma trajectória de direita. Estes cinco anos de governação de Sócrates, demonstraram que o PS não passa, hoje em dia, de um partido com absolutas práticas de direita, e da mais esdrúxula. O que se fez em diversas áreas, da educação aos direitos de trabalho, nem o PSD se atreveria a tanto. O PS tem feito o “trabalho sujo” que deveria caber à direita, para depois o PSD vir distribuir rebuçados.
Isso não se perdoa a um líder que não tem nada de socialista, que é um erro de casting do partido que, historicamente, teve socialistas autênticos e respeitados como Mário Soares, Salgado Zenha, Jorge Sampaio ou António Guterres. Estes, ao menos, tinham “alma social”, que é identitária do PS e que Sócrates, a maior desilusão (para mim, obviamente) da história do PS, tem desfeito, com as suas medidas alegadamente “pragmáticas” e “para responder à crise”. As crises têm de ser pagas por todos (não é o que se tem verificado em Portugal…), a começar pelos que mais têm. Não é a começar pelos que menos têm, deixando incólumes os primeiros…
Se essa prática identifica um partido da “Esquerda democrática, moderna e europeia”, eu já nem sei em que acredito…
Sei, claramente, em quem já não acredito!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Regionalização, precisa-se

É claro que Portugal é um país pequeno, em dimensão territorial e em população. Por isso, há mais adeptos do centralismo administrativo do que o regulamento permite. Os referendos até agora realizados sobre os projectos de regionalização foram votados ao fracasso, muito por culpa de imensa desinformação reinante em períodos eleitorais e do peso opinativo dos interesses instalados em redor do Terreiro do Paço, de que o país não consegue libertar-se. No fundo, a nossa alma colectiva vem moldada no sentido unificador e centralizador desde os códigos napoleónicos do século XIX. Há quase dois séculos… Na mesma direcção apontou o projecto estadonovista de um Portugal “do Minho a Timor”. Todos achamos muito bem que Lisboa decida; que Lisboa comande; que em Lisboa se concentre todo o poder, do governo, dos ministérios, da política, da cultura, da finança, da banca, da comunicação social, em especial da televisão, que apenas noticia o que se passa na capital e ao que à capital interessa. Portugal é hoje um país anestesiado pelo que Lisboa quer, laboriosamente narcotizado pelo que na capital se vai tecendo e construindo para que os portugueses aceitem passivamente que… o resto é paisagem, onde nada acontece, onde nada se decide, onde nada conta. Aliás, os políticos eleitos pela província e que sempre se manifestaram adeptos da descentralização e da regionalização, quando chegam a S. Bento, como por encanto, recebem a devida “lavagem ao cérebro” e tornam-se os mais ferozes guardiões de que nada mude no sistema administrativo.
Se assim não fora, os portugueses de bem do norte, do centro e do Alentejo teriam protestado energicamente, a exemplo do que se passa hoje em dia nos países árabes, contra o escândalo dos desvios de milhões de euros vindos da União Europeia para desenvolver as regiões desfavorecidas e que Lisboa, que deles não pode usufruir, num lance de esperteza saloia, como só ela sabe, abocanha ardilosamente. A imprensa desta semana, dá conta de que, no segundo semestre de 2010, mais 19 milhões de euros de fundos comunitários destinados às regiões do norte, centro e Alentejo, que têm um índice de desenvolvimento inferior a 75% da média europeia, e por isso justificam a atribuição de ajudas suplementares, foram investidos em Lisboa. No total, a capital desviou, nos últimos anos, para seu proveito, 173 milhões de euros das regiões mais pobres. O espanto, para quem ainda consegue ter essa capacidade, é que aquele montante vultuoso é contabilizado pela Europa como se fora aplicado no desenvolvimento de Trás-os-Montes, das Beiras ou da planície alentejana. Uma pura aldrabice contabilística, avalizada pelo bloco central de interesses, para quem o país profundo importa como pagador de impostos, cada vez mais elevados e como exército eleitoral, cada vez menos empenhado. Para o resto, vale o que vale um sapo debaixo da pata de um elefante…
Para um povo medianamente inteligente, este era, desde logo, um argumento de peso a favor da regionalização equilibrada do país. Para o povo português, é apenas mais uma fraude, a somar a tantas outras que nem vale a pena contabilizar!...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Tributo a José Afonso lotou Theatro Circo

Tive o privilégio de assistir na noite da passada quarta-feira, 23 de Fevereiro, no magnífico Theatro Circo, em Braga, a um espectáculo de excelência, de tributo a José Afonso. Zeca Afonso faleceu há 24 anos, vítima de doença e da imbecilidade de um Portugal retrógrado, que ainda hoje curiosamente campeia por aí, no dia a dia e na blogosfera, sob a capa preferencial do anonimato.
O espectáculo, que durou mais de duas horas e meia consecutivas, com uma sala completamente lotada, teve a participação dos grupos “Canto Daqui” e “Sopros do Zeca”, do Coro da Associação de Pais do Conservatório Calouste Gulbenkian, de diversos solistas, músicos e intérpretes convidados para o efeito, os quais, em diferentes registos, relembraram as músicas e os poemas do imortal autor de “Vampiros”, “Menino do Bairro Negro”, “Traz outro amigo também”, “O que faz falta”, “verdes são os campos”, “Grândola Vila Morena”, “Vejam bem”, Balada de Outono”, “Canto Moço”, “Venham mais cinco” e tantas outras composições que fazem parte do imaginário colectivo dos portugueses que ainda têm memória, que é coisa que começa a escassear, para infelicidade de todos.
As centenas de espectadores presentes cantaram, bateram palmas, aplaudiram, ouviram a alma e a poesia de um cantautor imorredouro, que denunciou o Portugal das injustiças, do colonialismo, da opressão e da repressão de antes do 25 de Abril, mas também o da hipocrisia, do cinismo, da arrogância, da falta de valores, do novo riquismo material e cultural dos anos 70 e 80, cujos “princípios” perduraram até aos nossos dias. José Afonso é um  valor incontornável da cultura portuguesa contemporânea.
Um espectáculo de alto gabarito cultural, dirigido pelo jovem maestro e talentoso músico Filipe Cunha, que os fafenses já viram (?) no Teatro-Cinema de Fafe, há cerca de um ano, num espectáculo de baixo custo em que ninguém se queixou de não haver bilhetes para os amigos ou os correligionários. Bilhetes não faltaram para quem os quis adquirir (e não foram muitos os que quiseram…), e a qualidade do espectáculo também não, como pode testemunhar quem a ele teve a prerrogativa de assistir.
Mas, como diria o poeta, em Fafe é assim: só se fala (quem sabe e quem nada sabe) do Tim! 

José Augusto Gonçalves continua a sua saga autobiográfica: novo livro esta sexta-feira

José Augusto Gonçalves, professor da Escola Secundária e escritor, apresenta esta sexta-feira à noite (21h30), na Biblioteca Municipal de Fafe, o seu mais recente livro, Viagens pelas Sendas da Alma Humana II, que é a continuação da sua saga autobiográfica, iniciada em Dezembro de 2009, com a publicação o primeiro volume.
A obra vai ser apresentada pelo também docente da Secundária e escritor, Carlos Afonso.
José Augusto Gonçalves é licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e mestre em Educação, na área de “História da Educação e da Pedagogia”, pela Universidade do Minho, cujo tema de dissertação foi intitulado Para uma Escola Cidadã. Contributos da Obra de António Sérgio.
Iniciou a elaboração de uma tese de doutoramento sob o tema A Educação Cívica na Obra de António Sérgio.
Professor do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária de Fafe, a sua actividade docente tem incluído, nestes últimos anos, a leccionação das disciplinas de Filosofia e de Psicologia, do 10º ao 12º anos de escolaridade.
No capítulo da investigação, os seus principais centros de interesse residem nas temáticas relacionadas com Filosofia, Psicologia e Educação.
Já lançou duas obras, com os títulos Escola e Cidadania. Contributos para Repensar o Sistema de Ensino em Portugal (em parceria com o seu orientador de mestrado, Manuel Barbosa, da Universidade do Minho), em 2002 e A Educação Cívica segundo António Sérgio: Sua Actualidade (somente de sua autoria), em 2003.
Publicou ainda um longo artigo na Revista de Estudos Cooperativos do Instituto António Sérgio, subordinado ao mesmo título da sua segunda obra.
Tem também colaborado em jornais, como no Diário do Minho, onde publicou um longo artigo acerca da concepção da educação cívica segundo António Sérgio – temática que, sobretudo desde o início da elaboração da sua dissertação de mestrado, muito o tem apaixonado.
Em 4 de Abril de 2007, fez a apresentação pública do seu terceiro livro, Paixão Pela Vida I: A Inteligência, com perto de duas centenas de páginas, numa edição da Labirinto, através da chancela “Ágora”. É um livro de cunho marcadamente pessoal, resultante de reflexões que foi fazendo sobre a temática da inteligência do ser humano.
Em 11 de Dezembro de 2009, lançou o seu quarto livro, este de carácter ficcional, mas de cunho autobiográfico, com o título Viagens pelas Sendas da Alma Humana – I.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

TIM foi um espectaculo em Fafe


O cantor TIM e as suas músicas que toda a gente canta maravilharam as três centenas de pessoas que tiveram a felicidade de presenciar a actuação do magistral vocalista e guitarrista dos Xutos e Pontapés que, na noite de sábado, não se cansou de elogiar a mítica sala de espectáculos que é o Teatro-Cinema de Fafe. É, sem qualquer dúvida, o orgulho de todos nós, pela sua beleza ancestral e pela sua acústica.


Os espectadores extasiaram-se com os temas que foram interpretados ao longo de hora e meia pelo conceituado artista, no começo do ciclo "Fafe em Concertos Íntimos". A seguir, no mesmo âmbito, vêm a Fafe outros nomes sonantes da música nacional como Sérgio Godinho (16 de Abril), Teresa Salgueiro (18 de Junho), Rita Redshoes (Outubro) e a fadista Carminho (10 de Dezembro).
Fafe está a entrar no mapa dos grandes espectáculos nacionais.
A sala é pequena? Sem dúvida alguma, para estes eventos que todos procuram. Mas é frequentemente grande para muitos outros espectáculos de inegável qualidade, que passam ao lado de alguns paroquianos locais que preferem mandar pelo ciberspaço os seus "bitaites" despropositados, porque não acompanham minimamente a cultura que se produz ou realiza em Fafe, não aparecem em realizações culturais, não acompanham o lançamento de um livro, a abertura de uma exposição, a representação de uma peça de teatro. 
Mas falam, falam... E não dizem nada!...
Fotos: Manuel Meira Correia

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Geração à rasca ou o que quer que seja


Ricardo Campus
É, por estes dias, incontornável ouvir falar (ou até escarnecer) da “geração parva”, da “geração à rasca” ou de outras etiquetas geracionais que, periodicamente, enxameiam a comunicação social e o espaço virtual.
Na base do debate, está sobretudo a letra da canção “Parva que Sou”, do grupo Deolinda, que já detinha músicas interessantes e que andam de boca em boca, como Movimento Perpétuo Associativo, a qual reza coisas interessantes como

Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar! 
Agora sim, eu sinto o optimismo! 
Vamos em frente, ninguém nos vai parar! 
Agora não, que é hora do almoço...
Agora não, que é hora do jantar/ (…)
Agora não, que me dói a barriga...
Agora não, dizem que vai chover...
Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...
Concluindo, magestaticamente com um

Vão sem mim, que eu vou lá ter....

Pois, o grupo da vocalista Ana Bacalhau acaba de inventar o hino de toda uma geração, que rapidamente se identificou com a letra da mais recente criação do grupo, de titulo “Parva que sou”. Não é a geração rasca, embora esteja à rasca; é a já apelidada “geração parva”.
O mais curioso e paradoxal é que se trata de uma música que nem sequer está editada e que foi interpretada apenas nos espectáculos dos Coliseus de Lisboa e do Porto. Mas a letra caiu absolutamente no goto da maioria dos presentes, saltou para os telemóveis, os blogues, o facebook, o youtube. Não há hoje quem não ouça falar da canção escrita pelo músico Pedro da Silva Martins: citada, recitada, parafraseada, a propósito de tudo e de nada, até caricaturada (os castiços Homens da Luta contrapõem “Esperto que eu sou”).
Porque é que tantos jovens se identificam com o teor de uma canção apenas e a transformam no seu hino geracional?
Pura e simplesmente porque retrata, de um modo cruel e realista, a vida e a desesperança de milhares de jovens portugueses, nos dias de hoje. Jovens, até à casa dos 30 anos, na sua maioria licenciados, muitos com mais altas qualificações, mas reduzidos à precariedade, com remuneração escassa ou apenas prolongando estudos e estágios para enganar o desemprego. Como referia o Público de 13 de Fevereiro, os diplomados precários mais do que duplicaram nos últimos dez anos. Se em 2000, eram 83 mil, hoje já ultrapassam os 190 mil, o que é arrepiante. E com tendência a crescer para números impensáveis: basta esperar pelo próximo ano lectivo, que vai desaguar em dispensas de professores e na impossibilidade de acesso aos contratados…
São jovens sem presente, mestres em tecnologia alimentar a vender pipocas no cinema, agrónomos a vender electrodomésticos, licenciados em letras a trabalhar nas caixas dos supermercados. Jovens qualificados sem férias, sem sistemas de saúde, sem direitos sociais, sem horas extras pagas. Jovens sem perspectivas, que não abandonam a “casinha dos pais”, obviamente, por falta de condições financeiras, que não de vontade, que adiam os projectos de vida, o casamento, os filhos, para as calendas. Jovens cujo diploma académico apenas dá acesso à vida de escravo, como bem expressam os Deolinda.
De quem a culpa? De ninguém, à partida, porque em Portugal ninguém é responsabilizado por coisa nenhuma. A culpa é dessa coisa informe, sem começo nem fim, sem rosto nem cartão de cidadão, que é o que se chama habitualmente sistema político e económico. De um sistema de ensino que qualifica as pessoas, mas não garante saídas profissionais, abandonando-as num patamar do género “cada um que se desenrasque, o mercado é que deve funcionar”, como manda a selvática cartilha liberal que os nossos governantes (estes e os outros) sabem recitar na perfeição, quando não os afecta a eles e aos seus séquitos. Quando tal acontece, fazem leis especiais que cubram a situação específica do filho do secretário de Estado, da neta da porteira ou do genro do motorista. Sistema de ensino, enfim, que concede “canudos” que não servem para nada, não tendo aplicabilidade alguma. Uma vez mais, ninguém é responsável por enganar e ludibriar centenas de alunos universitários que investem em cursos, no ensino público ou no particular, que não vão dar a lado nenhum. A culpa é também da economia que não responde nem tem capacidade de absorver os mais habilitados, preferindo pagar salários de escravos para baixas qualificações. Finalmente, da famigerada crise de que se não lobriga o fim. Todavia, economia e crise são bodes expiatórios de costas largas a que todos recorrem quando convém mas que não explicam nem de perto nem de longe muitas das entorses de que sofre o presente deste país, em particular.
Esta é, então, a geração sacrificada pelos excessos cometidos pelas anteriores, o mor das vezes sem a mínima consciência de que estavam a hipotecar o futuro. E ninguém sai imune dessa culpa colectiva de termos transformado o futuro dos nossos filhos numa selva sem leis, sem regras e sem uma luz ao fundo do túnel. Mas haverá sempre alguém mais responsável que outros, embora, como é da praxe, os decisores sejam os primeiros a lavar as su(j)as mãos de Pilatos…
Esta geração dos “quinhentos euros” parece que tarda em vingar-se do mal que estão a fazer-lhe. Aliás, só no seio de um povo acomodado, brando de costumes e habituado a não reagir, como o português, é que uma geração com este desconforto não degenera em revolta, na busca de uma afirmação social, cultural e económica que lhe está vedada.
Anuncia-se uma manifestação para 12 de Março, organizada pelo grupo Protesto da Geração à Rasca, um movimento que se diz "apartidário, laico e pacífico", para demonstrar o descontentamento de milhares de jovens portugueses precários.
Como referiu por estes dias o sociólogo Manuel Villaverde Cabral, “é difícil ultrapassar a viscosidade da nossa situação política mas oxalá que venham para a rua e isso contribua para uma reforma política sem a qual Portugal vai a pique". Os políticos que se acautelem, porque a força dos movimentos sociais há muito que se libertou e autonomizou dos condicionalismos dos sistemas partidários, em Portugal, como em outros tantos lugares do mundo!

Nota: o cartun que ilustra este post é da autoria de Ricardo Campus e integra uma belíssima exposição que está patente na Casa Municipal de Cultura de Fafe, desde a passada sexta-feira e até 4 de Março. Chama-se Dignidade - Exposição Internacional de Cartoon e foi organizada pela Feco Portugal - Associaçao de Cartoonistas e pela Aministia Internacional. Fafe é a quarta cidade a receber aquela interessante mostra de cartunes, que engloba dezenas de trabalhos de caricaturistas de mais de trinta países.
A ver, sem dúvida! 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Tim & Companheiros de Aventura abrem sábado "concertos íntimos" em Fafe

Tim abre este sábado um novo conceito musical no Teatro-Cinema de Fafe: Fafe em Concertos Íntimos.
O espectáculo (21h30) já está esgotado há duas semanas e nele o vocalista e guitarrista dos Xutos e Pontapés apresenta, para além de originais seus, belíssimas canções de outros compositores, compostas e partilhadas pelos seus Companheiros de Aventura. As canções de Rui Veloso, Mário Laginha, Celeste Rodrigues e Vitorino estão presentes no seu espectáculo, em temas únicos e inesquecíveis.
O objectivo do conceito Fafe em Concertos Íntimos, constituídos por cinco espectáculos, é colocar Fafe na rota da programação musical de qualidade do nosso país, criando uma ligação íntima entre grandes nomes do panorama musical nacional e o público da cidade.
Cada edição será preenchida por esta energia, por este encontro entre os que criam e os que fruem, saindo desse instante algo de muito peculiar e que fará do Teatro-Cinema a mais íntima das salas portuguesas ao longo das suas tardes e noites de conversa e de concerto.
A estrutura dos concertos íntimos subdivide-se em três momentos:
- A recepção ao artista pelas autoridades locais e a apresentação dos lugares de maior interesse, acompanhados por órgãos de comunicação social que estarão autorizados a produzir entrevistas e reportagens sobre a visita do artista a Fafe.
- Uma conversa de natureza mais íntima entre o artista e um grupo de cidadãos que previamente já estruturaram o encontro a ter lugar na Sala Manoel de Oliveira, sendo este grupo preferencialmente estudantes. Este sábado, a conversa tem início pelas 15h00. Nas sessões posteriores, o artista virá de véspera encontrar-se com os seus admiradores.
- O concerto acústico também ele com características íntimas, revisitando as músicas mais significativas e os principais temas que mais inspiraram a carreira do artista.
O projecto Fafe em Concertos Íntimos continua em 16 de Abril com Sérgio Godinho e em 18 de Junho com Teresa Salgueiro. Em 8 de Outubro será a vez de Rita Redshoes e em 10 de Dezembro a fadista Carminho.
Nomes grandes para uma nova estratégia cultural em Fafe, que privilegia a qualidade, a diversidade e a regularidade dos eventos, que não se esgotam naquele conceito, mas se espraiam por actividades e espectáculos de outras áreas artísticas, como o teatro, a comédia e a dança, num espaço mítico, como é o Teatro-Cinema, em que as potencialidades e os valores locais também têm o seu lugar indeclinável.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O suposto Dia de S. Valentim


Imagem da net

É suposto que o Dia de S. Valentim (14 de Fevereiro) seja o dia dos namorados.
É suposto que o Dia de S. Valentim seja o universal e decretado dia do amor.
É suposto que no Dia de S. Valentim os namorados comprem prendas para oferecer aos parceiros que amam, ainda que para cumprir uma tradição...fabricada ou imposta.
É suposto que no Dia de S. Valentim os namorados ofereçam flores às namoradas, ou um perfume, ou um livro, ou um CD. Ou apenas um beijo de amor, que muitas vezes vale mais que todos os objectos do mundo.
É suposto que no Dia de S. Valentim os namorados teçam carícias, e se amem, e se intercomuniquem numa química de desejo, como se o 14 de Fevereiro fosse o cume, o coruchéu, o píncaro, o paraíso do seu querer-se intensamente, sem meias medidas, como se nada mais houvesse no mundo que duas almas em transe.
É suposto que no Dia de S. Valentim haja amor, torrentes de amor, mas o que acontece é sobretudo comércio, e o fanatismo do consumo, e corações vermelhos de ternura, e postais entronizando os cupidos e as suas venenosas setas e toda uma parafernália nas montras a lembrar-nos que quem não entra na “orgia mercantilista” se auto-exclui do “espírito” organizado para “vender” este dia...
É suposto que no Dia de S. Valentim os casais que se amam se juntem, e beijem, e falem, e passeiem, e jantem, e se divirtam, como deveriam fazer na normalidade dos dias que passam...
É suposto que no Dia de S. Valentim namorados sejam todos os que se amam, independentemente das idades, das condições sociais, dos estatutos legais.
É suposto que no Dia de S. Valentim, ao menos nesse dia, a espiral da violência doméstica não faça mais vítimas.
É suposto que no Dia de S. Valentim não haja coisas assim...
É suposto que o Dia de S. Valentim seja uma espécie de Dia de Natal tardio, com flores em vez de conflitos, sorrisos no lugar nas lágrimas, mãos dadas em vez de portas fechadas. O triunfo da alegria, da solidariedade, da tolerância, da primavera que se aproxima, como se o presépio estivesse montado todo o ano num dos cantos do nosso coração.
É suposto que o Dia de S. Valentim não seja apenas uma mísera página do calendário que logo se arranca e se esquece, feita a contabilidade dos euros apurados ou da euforia comemorativa.
É suposto que o Dia de S. Valentim seja um dia como os outros, um S. Valentim todos os 365 dias, em que se ama, e se trocam sorrisos, e se oferecem rosas, e se enfeitam olhares com o calor das papoilas.
É suposto que o Dia de S. Valentim não tenha qualquer sentido, porque desnecessário, porque absolutamente inútil e redundante. A razão dos famigerados “dias de...” está na sem razão de uma prática que os vai tornando necessários, quando deveriam ser execrados, porque dispensáveis.
O Dia de S. Valentim acaba por comemorar um mundo sem amor, desde logo entre os namorados e por isso o apelo desenfreado ao consumismo, para compensar o afecto que às vezes escasseia, ou a atenção que o ser amado merecia e que as circunstâncias da vida vão dificultando.
Porque namorar é preciso, todos os dias, é suposto que o Dia de S. Valentim seja reduzido à sua verdadeira dimensão de mais um pretexto para dizer o quanto queremos à pessoa que amamos.
É suposto que o Dia de S. Valentim não mais seja mais que isso!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Concerto de amor este sábado no Teatro-Cinema de Fafe

A Academia de Música José Atalaya promove este sábado, dia 12 de Fevereiro, pelas 21h30, no Teatro-Cinema de Fafe, um concerto a que, pela proximidade do Dia dos Namorados, decidiu chamar “Love Concert”. Ou, concerto de amor.
Teremos oportunidade de assistir a um espectáculo em que músicos de uma linha clássica executam obras mais ligeiras e de fácil audição (algumas da música ligeira) num espectáculo diferente, de bom nível e acessível a todo o tipo de público.
O espectáculo tem a duração de hora e meia, com intervalo e inclui a interpretação de temas como Sentimentos – Musical Bela e o Mostro (Alan Menken), Dedicato a Lei (Giosué de Vincenti), Rondo – Finale – Op.53, nº3 (W. Gabrielskz), Tico – Tico no fuba –(Zequinha Abreu), Noturno nº3 (F. Mocino), “Two Of a Kind” – Andante e Allegro (G. Lewin), “Aria Papageno” (Mozart – Arr. A. Van Der Hagen), Una Furtiva Lagrima – Ópera “Elisir d’Amor” (Donizetti), Feelings (Morris Albert & Louis Gaste), Doce de Côco – Bandolim, Soni Boy (A.Jolson),  Serenade (M. Arnold), Nuovo Cinema Paradiso (E. Morricone), Somewhere (L. Bernstein), Amanhecer  (F. M. Torroba), La Boda (F. M. Torroba), Vacanze Romana (Matia Bazar) e E Depois do Adeus.

Preço de entrada: 2 euros

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O BOM E O MAU GOVERNO

1. No final da passada semana, o Governo em peso saiu à rua para inaugurar os melhoramentos feitos em 21 escolas secundárias do país. Ministros e secretários de Estado dispersaram-se pelo território nacional, para uma grande jornadas de glorificação da educação. Tal como referiu, e bem, o primeiro-ministro José Sócrates, “a educação é o grande projecto para Portugal”.
Na verdade, como primeiro passo, a requalificação dos edifícios e a dotação das escolas com os mais modernos meios e condições para o ensino e a aprendizagem, são opções estratégicas de louvar, para que o país possa sair do secular e atávico atraso em que se encontra, neste sector, se bem que as coisas estejam a evoluir favoravelmente nos anos mais recentes.
É, na verdade, gigantesco o investimento já realizado e a realizar até 2015 no programa de modernização das escolas executado pela empresa Parquescolar: intervenção em 370 escolas do ensino secundário, 78 do segundo e do terceiro ciclos e em 571 centros escolares. O montante global envolvido até agora ascende a 1,3 mil milhões de euros e permitiu criar 13 500 postos de trabalho, o que, a ser verdade, constitui um óptimo sinal para a economia portuguesa e para o sombrio panorama do desemprego deste país.
José Sócrates, reafirmando o seu orgulho, justificado, na aposta estratégica na educação, terá mesmo “criado” um novo slogan, a crer na imprensa: “Mostra-me a tua escola, dir-te-ei que nível de desenvolvimento tens”. Já vimos, exteriormente, algumas dessas escolas: que bonitas e agradáveis ficaram, depois das obras, que dignificam e enobrecem de sobremaneira quem as promove.
Está no bom caminho o Governo ao investir fortemente nas políticas educativas, desde a base, nomeadamente com a introdução do inglês no primeiro ciclo, a criação das actividades extracurriculares, a “escola a tempo inteiro” e a recuperação do ensino profissional na escola pública. Sócrates vangloria-se que “Portugal tem hoje 81 por cento dos seus jovens com 20 anos na escola. Atingimos a média dos países mais desenvolvidos do mundo”.
Não sei se a percentagem é essa ou não, se os números são ou não fiáveis, ou se incluem a devida dose propagandística. Mas que tem havido um tremendo esforço na educação nos últimos anos (em Fafe também tem sido opção estratégica, louvavelmente), apesar da crise, não restam dúvidas, transformando as escolas em “espaços contemporâneos adequados às funções a que se destinam”, como gosta de salientar a ministra Isabel Alçada, destacando a qualidade das salas, das bibliotecas, dos laboratórios, das oficinas, das instalações desportivas, dos espaços para estudo e para os docentes.
Esse esforço nos factores externos, deve ser complementado com outras medidas tão ou mais importantes, e são as que se dirigem aos recursos humanos, docentes e discentes, no sentido de redignificar a função docente e reforçar a autoridade do professor na sala de aula, acabar com o facilitismo do sistema educativo actual, voltado apenas para as estatísticas comunitárias e conquistar a comunidade educativa para uma maior participação na vida escolar, entre outras. Este o bom governo, que não me canso de aplaudir e exaltar…

2. Contudo, há outras acções do governo que merecem as maiores reservas. Desde logo, e ainda na educação, noticia-se que mais de 40 mil alunos do ensino superior podem ficar sem bolsa, em resultado da aplicação do novo regime de atribuição de apoios, o qual, ao que se ouve, vai excluir milhares de estudantes. Em pano de fundo, obviamente, estão os cortes orçamentais. Fala-se já no abandono de inúmeros estudantes do ensino superior, por não terem dinheiro para pagar propinas e as despesas com habitação e alimentação. Há alunos em situações aflitivas, já arrependidos de terem acedido ao ensino superior e outros que se vêem na contingência de terem de trabalhar para pagar os seus estudos.
O que apetece dizer sobre isto é que os cortes não podem ser indiscriminados, sendo necessária uma criteriosa verificação da situação de cada aluno, para que não continuem a ser beneficiados os descendentes de empresários, profissionais liberais e outros que tais (que declaram ao fisco ordenados mínimos…), e que se deslocam de Mercedes ou de Audi para as universidades, enquanto quem de facto necessita se vê espoliado do seu direito à educação superior. Casos desses não são raros…
Nessa “estratégia do corte” indiscriminado acabam de ser penalizados milhares de beneficiários da Segurança Social. A partir de 31 de Janeiro, mais de 70 mil perderam o direito ao abono de família. Estas pessoas juntaram-se às outras 383 mil que já tinham deixado de receber o apoio social em Novembro, por ocuparem os escalões mais altos (“altos” é uma forma de dizer!...).
Mas não são só 453 mil os afectados. Há ainda um milhão de beneficiários que perderam a majoração de 25% que tinha sido decidida em 2008.
Estes cortes no abono de família permitem ao Estado poupar cerca de 250 milhões de euros. E podem não ficar por aqui, como noticia a comunicação social: o Governo vai proceder à reavaliação das prestações sociais destinadas a mais de 823 mil beneficiários. Poupar, cortar, suprimir, excluir, são os verbos conjugados pelo governo. Não sabe outros!...
Milhares de pessoas já nem têm dinheiro para pagar água, luz e telefone e muitos outros milhares viram os seus apoios suspensos pela Segurança Social, já este mês.
Falamos de portugueses pobres ou a caminho da pobreza. É com estes fracos que José Sócrates é forte, não com os bancos, as Telecoms, as EDP, os gestores de topo!...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Artista fafense Miguel Vasconcelos premiado em Carballo, Coruna

Galeria dos premiados
O artista Miguel Vasconcelos, obteve ontem o segundo prémio e o 1º prémio para a melhor obra portuguesa, na nona edição da Bienal de Pintura do Eixo Atlântico e recebeu o galardão das mãos de Iolanda Otero, subdirectora geral de Juventude da Galiza. 
Na sessão, realizada em Carballo, Coruna, estiveram presentes Victor Dias, director do Instituto Português da Juventude e Maria Geraldes, da Fundação da Juventude.
Miguel Vasconcelos, embora natural de Guimarães, vive em Fafe desde sempre, sendo professor na Escola EB2,3 de Montelongo, nesta cidade.
Segue-se a notícia do jornal A Voz da Galicia:

Creadores de Galicia e do Norte Portugal e autoridades de ámbolos dous lados da raia déronse onte cita en Carballo para, a través da cultura, estreitar e fortalecer os lazos que unen a estas dúas rexións. A entrega de premios da novena edición da Bienal de Pintura do Eixo Atlántico trouxo á capital bergantiñá unha interesante colección de obras, que, unha vez remate a súa estadía no Pazo da Cultura -o día 28 deste mes-, iniciará un longo percorrido que a levará por boa parte Galicia e do Norte do Portugal ata finais do 2011.
A pontevedresa Monserrat Frieiro Dantas recolleu de mans de Manuel Martínez Bestilleiro, responsable da Novacaixagalicia para as bisbarras de A Coruña e Bergantiños, o primeiro premio da bienal, pola obra Camiño. O segundo premio á mellor obra portuguesa foi para Miguel Vasconcelos, que recibiu o galardón de Iolanda Otero, sudirectora xeral de Xuventude, e o da mellor obra galega, para Joseba Muguruzábal Pérez, que non puido estar onte en Carballo, polo que se encargou de recollelo Raquel Iglesias Gándara, gañadora tamén do primeiro premio aos novos talentos luso-galaicos. Víctor Díaz, director do Instituto Portugués da Juventude e María Giraldez, da Fundacao da Juventude, entregaron estes dous últimos galardóns no transcurso dun acto que congregou a numeroso público e algúns recoñecidos artistas locais, coma Manuel Facal.